quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MAIS UM EXCERTO D’ "OS PALAVRÕES E AS COISAS"

A PEQUENÍSSIMA MÁQUINA DE ESCREVER:
A SANTA MÁQUINA[1]





O buraco negro firma o traço geral de nossa análise. Se é que fora possível ao teórico desse negro buraco analisar algo relativamente ao que poderíamos chamar de obscuro. A ponta do saber não se efetiva na razão e no conhecimento impessoal de ser; e é no indeterminado que o pensamento impensado tornar-se-á a via principal desse nosso breve estudo. Schwarzschild marca a importância que a tradição da teoria da relatividade dá ao que, doravante, negamos ser a única verdade expressa em fórmulas matemáticas ou físicas[2].

Nossa questão não é solucionar problemas a partir de hipóteses em medidas e ordens já determinadas; muito menos inferir refutações previamente construídas. Não há uma equação universal e certa que comprove a existência de um espaço tortuoso, em um desdobramento exato em si mesmo — não ao menos nos termos de um a priori linguístico. Já estamos alhures de um conhecimento interdisciplinar meramente sistematizado; talvez nossa principal suspeita esteja boiando nas águas de um rio poluído das incompreensões que somos nós mesmos: os Outros. E quem são os Outros que somos nós Mesmos? Não se trata de responder esquematicamente o que seja o buraco negro, mas, em verdade, trata-se de vivenciá-lo como se fizéssemos parte dele; experimentar a sua “textura” e o seu “sabor”. O texto é palatável.

Contudo, ainda há outra barreira a ser ultrapassada que está para além de toda epistemologia. Eis, por conseguinte, a emergência da marca da religiosidade, que em seu início se apercebeu com sagacidade na “Idade Média”[3]. No entanto fora um começo ao menos sujo e obscurecido pela validação da religião a partir do resgate da antiga Filosofia — tal como fizeram aqueles homens da chamada Patrística. E esse momento se dá como contemplar um japonês caolho a beijar com ferocidade os lábios molhados de uma nua semi-virgem. A religião nada mais é que o tocar da glande santa na vulva pecadora; Deus é uma figura masculina, enquanto o pecado é originário da pobre Eva [...]




[1] BENTO, Eduardo e NASTASI, Sérgio Lima. Os palavrões e as coisas, pp. 22-3.
[2] Schwarzschild tentou “resolver” a questão do buraco negro postulando-o como uma esfera com um campo gravitacional e massa calculáveis no vácuo. A nova equação por ele proposta, fundamentada em 1916, “soluciona” a equação de Einstein acerca da deformação no tempo-espaço. Essa equação é dada por uma constante de Gravitação Universal, expressa em: ds² = - (1 - 2GM / c²r) c² dt² + (1 / [1 2GM / c²r]) dr² + r² (dθ² + sen²ψdω²) – (1.1).
[3] As “aspas” servem para não cairmos em um determinismo sem fim, isto é, evitaremos determinações que apenas classificam linearmente um dado momento histórico como Antigo, Médio, Renascido, Clássico etc.

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