A PEQUENÍSSIMA MÁQUINA DE ESCREVER:
A SANTA MÁQUINA[1]
O buraco negro firma o traço geral de
nossa análise. Se é que fora possível ao teórico desse negro buraco analisar
algo relativamente ao que poderíamos chamar de obscuro. A ponta do saber não se efetiva na razão e no conhecimento
impessoal de ser; e é no indeterminado que o pensamento impensado tornar-se-á a
via principal desse nosso breve estudo. Schwarzschild marca a importância que a
tradição da teoria da relatividade dá
ao que, doravante, negamos ser a única
verdade expressa em fórmulas matemáticas ou físicas[2].
Nossa
questão não é solucionar problemas a partir de hipóteses em medidas e ordens já determinadas; muito menos inferir refutações previamente
construídas. Não há uma equação universal e certa que comprove a existência de
um espaço tortuoso, em um desdobramento exato
em si mesmo — não ao menos nos termos de um a
priori linguístico. Já estamos alhures de um conhecimento interdisciplinar
meramente sistematizado; talvez nossa principal suspeita esteja boiando nas
águas de um rio poluído das incompreensões que somos nós mesmos: os Outros. E quem são os Outros que somos nós Mesmos? Não se
trata de responder esquematicamente o que seja o buraco negro, mas, em verdade,
trata-se de vivenciá-lo como se fizéssemos parte dele; experimentar a sua
“textura” e o seu “sabor”. O texto é
palatável.
Contudo,
ainda há outra barreira a ser ultrapassada que está para além de toda
epistemologia. Eis, por conseguinte, a emergência da marca da religiosidade, que em seu início se
apercebeu com sagacidade na “Idade Média”[3].
No entanto fora um começo ao menos sujo e obscurecido pela validação da
religião a partir do resgate da antiga Filosofia — tal como fizeram aqueles
homens da chamada Patrística. E esse
momento se dá como contemplar um japonês caolho a beijar com ferocidade os
lábios molhados de uma nua semi-virgem. A religião nada mais é que o tocar
da glande santa na vulva pecadora; Deus é uma figura masculina,
enquanto o pecado é originário da pobre Eva [...]
[1]
BENTO, Eduardo e NASTASI, Sérgio Lima. Os
palavrões e as coisas, pp. 22-3.
[2] Schwarzschild
tentou “resolver” a questão do buraco
negro postulando-o como uma esfera com um campo gravitacional e massa
calculáveis no vácuo. A nova equação por ele proposta, fundamentada em 1916,
“soluciona” a equação de Einstein acerca da deformação no tempo-espaço. Essa equação é dada por uma constante de Gravitação
Universal, expressa em: ds² = - (1 - 2GM / c²r) c² dt² + (1 / [1
2GM / c²r]) dr² + r² (dθ² + sen²ψdω²) – (1.1).
[3] As
“aspas” servem para não cairmos em um determinismo sem fim, isto é, evitaremos
determinações que apenas classificam linearmente um dado momento histórico como Antigo, Médio, Renascido, Clássico etc.
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