quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sobre Criminologia


Acredito que poucos sabem o que é a Criminologia, então lá vai uma pequena explanação.

A Criminologia é considerada ciência autônoma, fonte de recursos essenciais ao Direito, com enorme influência no Direito Penal. Busca justificativa para os delitos, avalia tudo que envolve o crime e o delinquente, oferecendo a natureza do fato típico praticado.

Etimologicamente, a palavra criminologia tem seu prefixo originário no latim crimen (crime) e o sufixo grego logo (tratado). Numa busca ampla por seus diversos conceitos, há poucas divergências doutrinárias acerca do assunto.

O profissional da Criminologia faz um diagnóstico do infrator e classifica o crime. Assim, um criminólogo compartilha de seus conhecimentos sobre a tipologia do criminoso e pode orientar sobre as causas do crime ou até mesmo impedir que algum delito venha a acontecer.

Essa ciência evoluiu no decorrer do tempo, possuindo diversas classificações. Dentre as mais conhecidas, o desenvolvimento da Criminologia foi dividido majoritariamente pela doutrina em duas escolas: Clássica e Positiva. No decorrer da história houve mudanças no pensamento criminológico, que passaram do conhecimento pela legitimidade do direito de punir, pelo criminoso nato com características inerentes desde o nascimento e também pela transformação do indivíduo causada pela sociedade.

Atualmente vemos a formação do mais novo ramo, que unifica as ciências da Criminologia e da Genética, tendo como principal alvo identificar potenciais criminosos através do DNA, comparando perfis genéticos de amostra desses indivíduos com outras amostras de referência, extraídos de criminosos outrora pesquisados e avaliados.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Momento Giorgio Colli

Amigos e amigas,

Por inspiração arqueológica do grande amigo e pesquisador Prof. Sérgio Lima Nastasi, e por lembrar as incríveis aulas do Prof. Dr. Marcos Sidnei Pagotto-Euzebio, deixo-lhes um interessante texto a respeito do "Nascimento da Filosofia" escrito por Giorgio Colli em 1975, e traduzido para o português por Federico Carotti em 1992...

Eis o primeiro parágrafo:

As origens da filosofia grega – e, portanto, de todo o pensamento ocidental – são misteriosas. Segundo a tradição erudita, a filosofia nasce com Tales e Anaximandro; no século XIX, buscaram-se suas origens mais remotas em lendários contatos com as culturas orientais, com o pensamento egípcio e o indiano. Por essa via não foi possível comprovar coisa alguma, só se conseguiram estabelecer analogias e paralelismos. Na verdade, o tempo das origens da filosofia grega está muito mais próximo de nós. Platão chama “filosofia” – o amor à sabedoria – à própria busca, à própria atividade educativa, ligada a uma expressão escrita, à forma literária do diálogo. E Platão olha reverente o passado, um mundo em que existiram os verdadeiros “sábios”. Por outro lado, a filosofia posterior, a nossa filosofia, é apenas uma continuação, um desenvolvimento da forma literária introduzida por Platão; contudo, esta surge como fenômeno de decadência, na medida em que o “amor à sabedoria” está mais abaixo da “sabedoria”. O amor à sabedoria, para Platão, não significava de fato a aspiração a algo nunca atingido, mas sim uma tendência a recuperar aquilo que já fora realizado e vivido.[1]

O livro na íntegra está disponível no link abaixo:

http://www.4shared.com/document/MjjMHKs-/O_NASCIMENTO_DA_FILOSOFIA0002.html



[1] COLLI, G. O nascimento da filosofia, p. 9-10.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Um pequeno debuxo

Para fazer jus ao nome do blog - “Bosquejos” - eu, humildemente, escrevo-lhes alguns aforismos de minha autoria à luz dos meus estudos filosóficos. Sem nenhuma pretensão moralista ou intelectualmente erudita de convencer alguém de alguma verdade inexistente. Isto é apenas uma espécie de “treino” para a minha vasta ignorância...



Primeiro aforismo: A ressignificação do significado-significante está para além de uma re-apresentação representada duas vezes pela própria apresentação. E o professor disse: “Eis o signo!”.

Segundo: Um dia houve a morte de Deus e o desvanecimento do Homem. Se as letras hoje minúsculas foram maiúsculas, então haverá um dia o encobrimento da linguagem? Pensemos...

Terceiro: Não somos os anunciadores da verdade, muito menos os denunciadores das mentiras. Todo discurso é tão mentiroso quanto é verdadeira a ausência de evolução entre nós. Se há alguma propensão para um fim, então houve um início de algo que ainda nem começou.

Quarto: As provas são uma forma vulgar de julgamento das capacidades que não pertencem ao mundo inteiro. É uma relação que podemos denominar saber-poder.

Quinto: A história é tradicionalmente aceita como contínua. O olhar de todos, e o escutar de poucos, não está presente nesta historicidade normal.

Sexto: Que venham os novos tempos de transformações avelhantadas!

Sétimo: Se as sentenças curtas revelam realmente alguma verdade nas palavras, em suas máximas eticamente compreendidas, por que então há tanta discussão sobre o caráter verdadeiro de nossa condição? Não há uma única verdade, assim como não existe uma visão de mundo universal...

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Brancaleone nas Cruzadas (1970)



O aventureiro Brancaleone (Vittorio Gassman) e seu exército de trapalhões partem para outro desafio - a conquista do Sepulcro Sagrado -, porém, todo seu exército é massacrado em um combate. Depois, em seu caminho, se unem a ele um anão, uma bruxa maluca e um masoquista que chora copiosamente quando Brancaleone o chuta. Em sua cruzada, nosso destemido cavaleiro acaba se envolvendo em um conflito entre dois rivais, o Papa Clemente e o Papa Gregório. Muita ação, humor e aventura com Brancaleone, um herói debochado, irreverente e muito engraçado.




Título original: Brancaleone alle crociate
Gênero: Comédia / aventura
Atores: Vittorio Gassman, Stefania Sandrelli, Gianrico Tedeschi, Beba Loncar
Direção: Mario Monicelli
Ano: 1970
País de produção: Itália / Argélia
Duração: 119 min.

Site de referência: http://www.2001video.com.br/detalhes_produto_extra_dvd.asp?produto=16073

Sinopse (IMDB)

Link para download: Megaupload
Dados do Arquivo
Tamanho: 570 Mb
Formato: RMVB



Um bom filme para quem não tem mais o que fazer...

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Um breve resumo

Comentários sobre a obra “Protágoras” de Platão

EDUARDO DE ARAÚJO BENTO[1]

Esta reflexão será feita a partir de um diálogo de Platão intitulado “Protágoras”, e tem por objetivo, em primeiro lugar, apontar qual é a objeção socrática à arte ministrada por Protágoras. A seguir será apresentado o argumento socrático em defesa de um ideal de educação. Para fundamentar o nosso estudo, remontaremos os principais argumentos acerca da virtude (areté), tanto na fala de Sócrates quanto nas palavras de Protágoras.

Antes de começarmos a comentar os trechos mais importantes da obra vamos, primeiramente, apresentar os nomes de cada uma das personagens e, em segundo lugar, apontar qual é a marcação do referido diálogo na obra de Platão. As personagens que participam do diálogo são: um amigo, Sócrates, Hipócrates, Protágoras, Alcibíades, Cálias, Crítias, Pródico e Hípias. Focaremos nossa atenção para as duas personagens principais do texto, ou seja, apresentaremos com mais frequência os argumentos de Sócrates e de Protágoras. Este diálogo vai da marcação de 309a até 362a dentro da obra do referido autor.

No início do diálogo, em uma rua de Atenas, Sócrates se encontra com um amigo, uma personagem anônima, com a qual começa a conversar sobre a beleza do jovem Alcibíades. Logo de saída, Sócrates faz uma pequena referência à obra de Homero – o que demonstra claramente o alto nível cultural de um ateniense médio -, ao dizer que a juventude de Alcibíades poderia ser verificada com o surgimento de sua primeira barba. Porém, para Sócrates, a beleza do jovem não era considerada a verdadeira beleza. Para ele o mais sábio é o mais belo e, desta feita, a presença de um estrangeiro de Abdera “incomodava-o”, por já não mais conseguir prestar muita atenção em Alcibíades quando estavam juntos, por conta do aparecimento deste sábio que perturbava seus pensamentos.

Em 309d, Sócrates revela ao amigo quem é o sábio estrangeiro que está na cidade. Diz ser Protágoras, um dos sofistas gregos mais destacados e ilustres que chegara a pouco em Atenas. Sabemos da grande oposição que Sócrates faz aos sofistas, entretanto, é notável a sua admiração para com Protágoras.

O amigo anônimo de Sócrates pergunta se ele esteve junto de Protágoras nos últimos dias, e pede para contar-lhe como aconteceu este encontro. Sócrates afirma que houve este encontro, e começa a descrever como foi o ocorrido.

Tudo começou com a visita de Hipócrates à casa de Sócrates, que ansiava encontrar-se com Protágoras que acabara de chegar à cidade. Hipócrates é um jovem ateniense de família abastada, na qual procurava os ensinamentos dos sofistas, pois, o conteúdo da Paidéia havia se tornado ineficiente para os jovens que aspiravam ingressar na carreira política. Por isso a grande ânsia de Hipócrates em se encontrar rapidamente com o sofista Protágoras.

Quando Hipócrates diz que Protágoras não lhe dera ensinamentos para tornar-se um sábio, Sócrates demonstra, ironicamente, toda sua oposição aos sofistas, dizendo ao jovem que se tivesse pagado uma quantia considerável à Protágoras este teria tornado-o prontamente um sábio, insinuando que os sofistas não ensinam à todos, mas somente àqueles que pagam pelo “serviço” prestado. Assim, Sócrates logo observa que o jovem Hipócrates está disposto a pagar o que for necessário para aprender com Protágoras a tal arte que, com tanta eloquência, o sofista dizia ensinar.

Hipócrates diz a Sócrates que o sofista se encontra hospedado na casa de Cálias e, desesperadamente, o jovem quer ir visitá-lo para começar imediatamente os seus estudos. Todavia, Sócrates quer “testar” o jovem ateniense para saber se este tem consciência de suas intenções ao querer encontrar-se com o ilustre sofista de Abdera.

A parte a seguir, que vai de 311b à 314b, em que Sócrates e Hipócrates se encontram dialogando no pátio da casa do filósofo, explicita o que o mesmo pensa dos sofistas que, para ele, não são mais que mercadores que vão de cidade em cidade com o intuito de vender conhecimento aos jovens. Faz uma comparação entre esta “venda” de ciências dos sofistas, com a venda de alimentos de um comerciante qualquer. Diz que há um perigo muito maior na “compra” de sabedoria sofística, do que na compra de comida, pois, a sabedoria (ou a ciência) só pode ser avaliada depois de assimilada. Não é possível, tal como no estoque ou na degustação de algum alimento, colocar a ciência em um recipiente para ser analisada, pois, depois de assimilado o conhecimento, o próprio homem sofre uma “transformação”, ou seja, este conhecimento fica “preso em si”. Assim, Sócrates diz a Hipócrates, que não é possível que ele obtenha tal conhecimento desta maneira, que seria muito precipitado por parte do jovem ir atrás de tais ensinamentos, sem ao menos saber se isto será salutar ou prejudicial para si.

Contudo, para finalmente chegarmos ao encontro de Sócrates e Hipócrates com Protágoras, daremos um salto proposital no texto – sairemos de 314c e avançaremos à 316a – para então abordarmos o nosso objetivo proposto. Sócrates diz a Protágoras quais são os motivos de sua visita, apresentando assim o jovem Hipócrates ao sofista. Fala que se trata de um rapaz de família abastada, que tem a pretensão de ser um político conceituado em Atenas. Sendo assim, um jovem com as qualidades de Hipócrates serviria aos propósitos educativos dos sofistas, ou seja, as melhores famílias atenienses do século V sempre procuravam os sofistas para ensinarem seus filhos alguma especialidade (techné), com a qual a Paidéia grega antiga já não dava mais conta de fazer.

Após as primeiras palavras de Sócrates, Protágoras começa de imediato o seu discurso grandiloquente, fazendo um elogio a si mesmo por conseguir persuadir um grande número de jovens, por todas as cidades em que passa, a seguirem-no atrás de seus “magníficos” ensinamentos. Ademais, o sofista relata todas as dificuldades de sua profissão; diz ser herdeiro dos grandes poetas do passado, aos quais, como afirma o próprio Protágoras, também praticavam a sofística.

Protágoras continua seu discurso dizendo ser o maior de todos os sofistas, e afirma com toda convicção que não atua tal como os antepassados, aos quais se utilizaram da arte de ensinar de forma dissimulada. Ele diz que jamais fora refutado em um embate retórico, diferentemente de todos os outros sofistas que, de alguma forma e em algum momento, se viram sem argumentos para “ganhar” algum tipo de discussão. Essa pretensão de Protágoras mostra o quão vaidoso o sofista é diante dos outros, tanto que, além de achar-se o maior entre todos, ainda diz ter consigo a grandiosa função de educar os homens.

Além disso, Protágoras recorda que já é um sofista há muitos anos, de modo que reforça sua autoridade diante de todos os presentes. Assim, à convite de Cálias, todos se juntam em um único aposento, inclusive Hípias e Pródico – outros dois sofistas da cena -, para ouvirem as palavras de Protágoras. É neste momento que o sofista começa sua argumentação acerca do ideal de educação, ou seja, aquele que está vinculado ao discurso em forma de assembléia, para garantir a atenção de todos os seus ouvintes.

Assim, Sócrates lhe faz uma primeira objeção: questiona-o acerca do que ele ensina aos jovens. Protágoras continua a vangloriar-se ao repetir que consegue persuadir os jovens mais capacitados a seguirem-no, de tal modo que estes mesmos jovens só teriam benefícios progressivos conforme acompanham os ensinamentos do sofista, sendo esta a primeira definição de ensino que é proposta por ele. Porém, não satisfeito com as explicações de Protágoras, por achar que ainda falta explicitar melhor este ideal de educação, Sócrates questiona-o mais uma vez acerca do que um jovem, como Hipócrates, conseguirá aprender melhor e em que ele melhor se aperfeiçoará.

Após os questionamentos feitos, Protágoras hesita em suas explicações ao tentar demonstrar como melhor definir este ideal de ensino. Novamente, como em 317a-b, o ilustre sofista tenta atestar sua superioridade não somente sobre os antigos, mas também sobre seus rivais contemporâneos. Faz isto ao olhar para Hípias, acusando-o de praticar um ensino um tanto enciclopédico.

Mais uma vez Protágoras valoriza a sua prática em ensinar os jovens: afirma que aqueles que o procuram só vão aprender as matérias que pretenderem. Deste modo, expõe para todos a sua segunda definição de ensino, que é a proposta da obtenção de uma cultura superior, que garante aos seus discípulos a capacidade de gerenciar de forma mais eficaz tanto os assuntos particulares quanto os assuntos da polis. Portanto, os ensinamentos de Protágoras não servem para se obter uma determinada profissão, tal como é a proposta educativa dos outros sofistas.

Em 319a, Sócrates questiona mais uma vez Protágoras afirmando que as pretensões do sofista são apenas políticas, ou seja, que ele somente promete converter os homens em bons cidadãos. Não obstante, o filósofo pretende demonstrar argumentos contrários aos de Protágoras, ou seja, afirma que a virtude (areté) não poder ser ensinada, ou transmitida, tal como quis demonstrar o sofista. Portanto, Sócrates começa por fazer outras objeções ao ideal de educação de Protágoras.

Na sequência, de 319b à 319d, Sócrates apresenta um primeiro argumento comparando os saberes técnicos com os assuntos da polis grega. Este argumento é exposto em três momentos: o primeiro faz referência aos atenienses que julgam que somente os homens de determinadas técnicas, ou seja, capazes de serem ensinadas, podem falar sobre tais assuntos; o segundo momento diz respeito aos homens possuírem a areté política, independentemente da sua profissão; e, por último, refere-se à descrença dos atenienses de que a areté pode ser ensinada, pois, se esta virtude pudesse ser transmitida, seria possível apenas aos que a aprenderam participar ativamente da vida política, não a todos os homens como era a prática comum grega.

Sócrates continua sua exposição ao apresentar um segundo argumento contra a proposta de Protágoras. Agora afirma a impossibilidade dos sábios e nobres transmitirem aos outros cidadãos a sua areté, argumentando dois exemplos: o primeiro se refere à Péricles, ao qual não ensinou seus filhos, muito menos aos filhos dos outros cidadãos, a areté em que ele era tido como sábio, por não ser possível tal ensinamento; o segundo exemplo se refere à Árifron, irmão de Péricles, que não conseguiu educar o jovem Clínias ao modo como o irmão havia solicitado que o fizera. Assim, a conclusão é de que a areté política não pode ser ensinada.

Protágoras argumentou novamente de forma sintética e, Sócrates, em tom de ironia, admira a capacidade do sofista em apresentar seus argumentos poéticos em defesa da possibilidade do ensino da areté política. Pede para Protágoras demonstrar como isto poderia ser ensinado. Logo após, o sofista, todo confiante, começa a tentativa de demonstração contando o mito de Prometeu.

Trata-se de um mito que narra como surgiram todos os seres vivos e como Epimeteu, irmão de Prometeu, distribuiu seus atributos entre os seres a mando de Zeus. Para alguns deu a força, para outros a velocidade, ou asas, ou carapaças resistentes, pêlos grossos para se protegerem do frio etc. Epimeteu não conseguiu dividir estes atributos para todos os animais e, quando chegou a vez dos homens, este ficou sem nenhuma qualidade para lhes oferecer, deixando-os sem abrigo, sem defesa e sem força contra os demais seres vivos. Deste modo, Prometeu decide “corrigir” o erro de Epimeteu, e rouba o fogo e a sabedoria dos deuses, dando-as aos homens para que estes pudessem sobreviver.

Neste momento, Protágoras usa um recurso para fazer uma “quebra” na narrativa do mito para validar seu argumento sobre a possibilidade do ensinamento da areté política. O sofista é astuto e pretende demonstrar algo a mais que está contido no mito que, somente ele próprio, pelo seu vasto conhecimento, tem a capacidade de expor aos demais ouvintes.

Com isso, continua a sua arguição afirmando que, ao receber os dons divinos, o homem não se tornaria um deus, porém, detém alguns atributos divinos. É o único animal a reconhecer os deuses, sendo aquele quem os reverencia, seja construindo imagens, erguendo altares, enfim, comprovando a sua afinidade com os deuses. O fogo é a simbologia do espírito, e a sabedoria divina, dada aos homens, é a capacidade de visão e transformação do mundo.

Os homens, pela inteligência dada por Prometeu, começam a se agruparem contra todos os perigos da natureza e, deste modo, começam a construir cidades. Mas por não possuírem a justiça (diké), acabaram por não conseguirem viver por muito tempo juntos, e começaram a desagruparem-se. Vendo isto, Zeus, com receio que acontecesse a extinção do homem pelas forças da natureza, ordenou a Hermes que distribuísse justiça e respeito para todos os homens. Só assim foi possível novamente o reagrupamento dos homens e a constituição das cidades. Porém, ainda faltou ao homem regras e valores necessários para a vida em sociedade, o que denota que a arte de gerenciar uma cidade não é inata. Então, Zeus intervém mais uma vez criando aos homens certas regras e valores fundamentais.

Assim, Protágoras responde convincentemente ao primeiro argumento de Sócrates, ao qual diz que todos os homens podem participar dos assuntos da polis, porque todos eles possuem a virtude do senso de justiça e respeito dados por Zeus.

Mais à frente, Protágoras afirma que Sócrates está errado ao dizer que os homens comuns negam o fato de a areté política ser ensinada. O sofista então afirma que, pela instituição de punições e castigos aos homens, a virtude (areté) pode sim ser ensinada, esta é a prova moral dada por Protágoras.

Para refutar o primeiro argumento de Sócrates, o sofista usou o recurso do mito (mythós). Agora, para responder à segunda objeção, Protágoras usará o recurso da retórica (logos), na qual o filósofo disse que os homens bons não conseguem ensinar, de maneira eficaz, a areté aos seus filhos.

Na continuação dos seus argumentos, Protágoras infere que toda vida social só é possível a partir do ensinamento da virtude (areté), se não fosse deste modo, jamais poderia haver a vida em sociedade na polis. Esta é a razão pela qual, diferentemente do que Sócrates afirmou, Protágoras diz que, além de ensinada, a areté é “vital” para a constituição das cidades.

É preciso ainda voltar à parte do argumento acerca das punições e castigos. Para Protágoras, quem castiga não pune por conta das injustiças, mas sim com o intuito de ensinar a quem errou, ou seja, quem pune outrem tem o senso de justiça.

Para resumir a conclusão de Protágoras: para ele os atenienses acreditam que a areté política pode ser ensinada. Se não haveria uma impossibilidade de gerir as cidades e, deste modo, aos mais jovens, desde muito cedo, além de aprenderem a ginástica, a música e a literatura, também aprendem o que é o certo e o errado, o bom e o justo, enfim, a arte de viver bem na polis. Quando alguns destes jovens falham no aprendizado, estes são castigados com a intenção de ensinarem a eles corretamente a justiça, que está diretamente ligada à areté política.

Não obstante, Protágoras ainda “corrige” a afirmação de Sócrates acerca da impossibilidade do ensinamento da areté dos pais para os filhos; se todos têm este senso de justiça, então, para que os cidadãos possam conviver, é transmitida pelas gerações esta arte, partindo do ensinamento da justiça, sensatez e piedade como atributos básicos da virtude.

Protágoras ainda afirma mais uma possibilidade: a arte da virtude, dada pelos deuses, não pode se desenvolver naturalmente, ou seja, é por esta razão que há a necessidade dela ser ensinada. É como um hábito ensinar a areté para a sobrevivência da polis, entretanto, uns são mais capacitados a dar este ensinamento do que outros, sendo ele mesmo (Protágoras) um dos quais podem ensinar esta virtude essencial para a polis. O que justifica a importância de seu ensinamento, e o motivo pelo qual recebe por esta tarefa fundamental.

Assim, Protágoras conclui seu discurso: é notável a forma como toda argumentação é organizada, como cada parte do discurso consegue complementar a outra de maneira bela e persuasiva. Tem um início, uma exposição narrativa de um mito, outra exposição retórica sobre a justiça e, por fim, a prova de que a areté política, além de poder ser ensinada, é constituinte na vivência em sociedade.

Sócrates, depois de ouvir o demorado discurso de Protágoras, alerta aos ouvintes sobre a importância de perceberam a persuasão de um discurso longo, que utiliza belas palavras para encantar a todos. Em contrapartida, o discurso curto que, pela inteligência (logos), mostrava a verdade do que havia de ser dito em pequenas sentenças.

Neste momento, faremos uma quebra em nosso texto para darmos um sobrevoo maior direto aos conceitos (argumentos) que mais nos interessam, aos quais estão dentro do nosso propósito de expor as refutações de Sócrates acerta do que fora dito sobre a educação.

Ao dar continuidade à sua refutação, Sócrates introduz a questão sobre o caráter universal da areté. É a partir daí que a argumentação de Protágoras, pautada no longo discurso, começa a ser quebrada com as pontuações de Sócrates. Para o filósofo, as qualidades dos homens não são distintas como são para o sofista, ou seja, para Sócrates todos estes atributos fazem parte de uma mesma verdade: o conhecimento. E, para saber de Protágoras se a virtude política é múltipla ou única, Sócrates questiona-o sobre as qualidades pertencentes à areté, qual seria o determinado grau de importância entre cada uma delas.

Sócrates uso o exemplo do rosto para fazer um paralelo entre as partes que o compõem com as partes constituintes da areté: suas funções, semelhanças, distinções etc. Assim, o filósofo começa por comparar as qualidades que formam a virtude. Em primeiro lugar: a justiça e a piedade – parte que vai de 330c à 332a.

Adiante, Sócrates não tem nenhuma pretensão em provar se a piedade e a justiça são muito iguais ou nada idênticas. Seu real intento é dizer que elas são inseparáveis. Para ele uma é extensão da outra, ou seja, são equivalentes ao passo que as torna unas e inseparáveis.

Protágoras se vê sem respostas, e fica somente por analisar as semelhanças e diferenças entre as coisas. O argumento do sofista já fora “quebrado” com a exposição de Sócrates sobre a piedade e justiça serem unas e, sendo assim, Protágoras acabara por aceitar a “derrota” nesta parte da argumentação.

Para que Protágoras não deixe de lado a discussão, Sócrates tenta animá-lo a continuar, e faz isso mudando o foco de sua argumentação para falar dos atributos da sensatez e da sabedoria – parte que começa em 332a e vai até 333c.

Entretanto, mais à frente, Sócrates finalmente faz com que Protágoras concorde que todas as coisas são iguais às outras. Desenvolve assim o argumento dos opostos que, em linhas gerais, é o sentido aos quais as coisas correspondem a um único contrário oposto, fazendo com que o sofista tome uma posição diversa daquela que havia defendido anteriormente, considerando assim a sensatez e a sabedoria como atributos únicos.

Ainda há uma terceira dicotomia na qual Sócrates resolve apresentar: trata-se da unidade da sensatez e da justiça. Sócrates questiona Protágoras acerca de um homem, que comete injustiça, poder ser sensato, pois, sendo o que ele fez foi injusto. Isso leva o sofista a quase admitir que a sensatez é má e a injustiça é boa.

Mais à frente, Protágoras tenta novamente usar um longo discurso para fugir dos questionamentos de Sócrates e, assim, persuadir os ouvintes. Sócrates se vê sem condições de acompanhar este demorado discurso que não diz a verdade, e ameaça sair do recinto, porém, ele é detido pelos ouvintes que pedem para que ele fique.

Após toda uma discussão entre os presentes, uns dizendo para Protágoras ficar somente nos argumentos e questionamentos, sem discursos longos, outros pedindo o fim da discussão para que, tanto Sócrates quando Protágoras cheguem a um consenso sobre o tema.

Sócrates dá a oportunidade de Protágoras questioná-lo, porém, o sofista quer utilizar novamente a poesia para tanto. Sócrates, aos perceber que Protágoras não deixa de lado a tradição oral dos poetas, pretende manter-se nas suas argumentações.

Em 342b à 342d, Sócrates retoma o tema da sabedoria dizendo, primeiramente, que os Espartanos são os mais sábios por terem uma educação austera. Na verdade eles fingem serem ignorantes, porém, dão valor para a coragem e à guerra, com a intenção de que as outras cidades gregas tentem acompanhá-los, mas não conseguem. Em segundo lugar, o filósofo lembra que em Creta e Tebas existe também uma grande importância dada à educação das mulheres. Assim, ele diz que a educação não pode ser vinculada à uma tradição de poesia oral. Só quem tem uma educação severa são aqueles que alcançam, ou chegam bem perto, da verdadeira sabedoria a partir de máximas curtas, evitando os longos discursos poéticos.

Sócrates propõe a Protágoras que abandone de vez as explicações dadas a partir da poesia e que, comece verdadeiramente o discurso, valorizando o diálogo, a inteligência, a argumentação, o raciocínio, as refutações (negações), enfim, propõe que haja uma dialética entre os dois, na qual será dado o caminho para se alcançar a verdade.

Em 349b eles finalmente regressam à questão inicial sobre a areté. Sabedoria, sensatez, coragem, piedade e justiça significam uma mesma qualidade, ou são particulares, individuais, sem nenhuma igualdade entre tais características? Com essa questão, Protágoras tenta reformular sua tese, porém, acaba por ficar concordante aos apontamentos de Sócrates.

Na parte final do dialogo, Protágoras se encontra sem nenhuma condição de responder aos questionamentos de Sócrates, deixando e lado sua tese que, a todo o momento, foi combatida pelo filósofo. Porém, Sócrates, em nenhum momento, quis expor ou humilhar o sofista. O único intento do filósofo foi pela procura do verdadeiro significado de areté. Segundo Sócrates é importante que se continue a investigação, com a intenção de não perder-se nos desvios argumentativos a fim de que o tema não fique preso a uma aporia.



[1] Graduando em Filosofia pela Universidade Metodista de São Paulo.