domingo, 2 de março de 2014

Soneto

                                          (Pablo Picasso)




EU-EGOÍSTA


Eu, que sou a flor mais bela dos campos,
fiz aquele homem sofrer as dores d’um parto;
arranquei-lhe o coração e o inumei no mato.
Pobre tolo que ousou acreditar no Amor a cair em prantos.

O meu falso altruísmo ele acolheu em todos os cantos;
minha safadeza o condenou ao Inferno, de fato;
deixei-o nu na solidão com um pensamento inexato,
da impotência em conquistar-me com outros mantos.

Transformei a fome dele em total desgosto.
Retirei-lhe a sede na intranquilidade de um ser exposto,
a se perder no julgamento que eu mesma faço.

Sinto-me enojada por ele ser tão odioso;
nem se quer eu tive algum momento belo e gostoso.
E procuro agora todos os amantes melhores que este cabaço.



Dona Bote-Rude