domingo, 29 de dezembro de 2013

Amigos...



A AMIZADE

A amizade é uma relação íntima e perigosa
É entrelaçar as afeições agora e infinitamente
Na compreensão e na vivência harmoniosa
A alma expande e pede o amor incipiente

Amigo é mais do que alguém para conversar
É aquele que está presente a todo o momento
Se estiver ausente sente falta em abraçar
No sentir do outro este verso do soneto

E quanto mais o amor se aquecer
Sonha mais alto ao contemplar o entardecer
Na confiança de que nunca vai se esquecer

Da benevolência deste carinho tão profundo
E que na vida a distância pode enlouquecer
Mas o futuro traz a luz de um novo mundo


Eduardo Bento e July Dias,
domingo, 29 de dezembro de 2013.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Dístico


Sublime



Tu estás a sublimar toda beleza
E intentas olhar por cima a realidade
Tão superficial que ignoras a tristeza
Cheio-de-si num mar de pura vaidade

Destinado a ocultar a existência
Convives com a ignorância do ente
Aturdido com o que és realmente
Vivificas neste canto a incoerência

A distração é o mote do imprevisto
Soa como a boniteza do sentir
E contentas com o conselho antevisto
Da ilusória sensação que está por vir

Todavia a morte passa sem querer
Toda vida foi-se embora por prazer



Eduardo Bento e Alexia Fernanda,
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013.

Dupla



Infinito fim


Quanto menos sempre mais
Quando o menos é demais
A metade não lhe satisfaz

Não seguiremos a percepção
E o todo perde a sua amplitude
Há quem diga que aqui há infinitude
Na complexidade da nossa reflexão

Mas donde há um céu
Donde há um mar
Se o olhar é sem direção,
Se a visão não lhe traz compreensão?
Pois o horizonte perde a sua magnitude

E as manhãs perdem o sentido
Daquele inicio que não chega ao fim
Na imensidão o inteiro fica diminuído
O todo se reduz ao nada
Perto e longe fica a distância aproximada


Eduardo Bento e Waner C. Santos,

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

MAIS UM EXCERTO D’ "OS PALAVRÕES E AS COISAS"

A PEQUENÍSSIMA MÁQUINA DE ESCREVER:
A SANTA MÁQUINA[1]





O buraco negro firma o traço geral de nossa análise. Se é que fora possível ao teórico desse negro buraco analisar algo relativamente ao que poderíamos chamar de obscuro. A ponta do saber não se efetiva na razão e no conhecimento impessoal de ser; e é no indeterminado que o pensamento impensado tornar-se-á a via principal desse nosso breve estudo. Schwarzschild marca a importância que a tradição da teoria da relatividade dá ao que, doravante, negamos ser a única verdade expressa em fórmulas matemáticas ou físicas[2].

Nossa questão não é solucionar problemas a partir de hipóteses em medidas e ordens já determinadas; muito menos inferir refutações previamente construídas. Não há uma equação universal e certa que comprove a existência de um espaço tortuoso, em um desdobramento exato em si mesmo — não ao menos nos termos de um a priori linguístico. Já estamos alhures de um conhecimento interdisciplinar meramente sistematizado; talvez nossa principal suspeita esteja boiando nas águas de um rio poluído das incompreensões que somos nós mesmos: os Outros. E quem são os Outros que somos nós Mesmos? Não se trata de responder esquematicamente o que seja o buraco negro, mas, em verdade, trata-se de vivenciá-lo como se fizéssemos parte dele; experimentar a sua “textura” e o seu “sabor”. O texto é palatável.

Contudo, ainda há outra barreira a ser ultrapassada que está para além de toda epistemologia. Eis, por conseguinte, a emergência da marca da religiosidade, que em seu início se apercebeu com sagacidade na “Idade Média”[3]. No entanto fora um começo ao menos sujo e obscurecido pela validação da religião a partir do resgate da antiga Filosofia — tal como fizeram aqueles homens da chamada Patrística. E esse momento se dá como contemplar um japonês caolho a beijar com ferocidade os lábios molhados de uma nua semi-virgem. A religião nada mais é que o tocar da glande santa na vulva pecadora; Deus é uma figura masculina, enquanto o pecado é originário da pobre Eva [...]




[1] BENTO, Eduardo e NASTASI, Sérgio Lima. Os palavrões e as coisas, pp. 22-3.
[2] Schwarzschild tentou “resolver” a questão do buraco negro postulando-o como uma esfera com um campo gravitacional e massa calculáveis no vácuo. A nova equação por ele proposta, fundamentada em 1916, “soluciona” a equação de Einstein acerca da deformação no tempo-espaço. Essa equação é dada por uma constante de Gravitação Universal, expressa em: ds² = - (1 - 2GM / c²r) c² dt² + (1 / [1 2GM / c²r]) dr² + r² (dθ² + sen²ψdω²) – (1.1).
[3] As “aspas” servem para não cairmos em um determinismo sem fim, isto é, evitaremos determinações que apenas classificam linearmente um dado momento histórico como Antigo, Médio, Renascido, Clássico etc.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Um trecho de uma parceria escrita e dita


LEIA, QUEM QUISER:

[...] Talvez o didatismo se dê pela vontade de explicitar, e isso ao máximo, quaisquer conceitos que parecem ser excessivamente obscuros, principalmente para leitores ou alunos não “iniciados” em Filosofia. Por que um conceito é tido como algo hermético? O que ele não consegue dizer com clareza? Se uma filosofia é armada segundo a força de seus conceitos sobriamente levados por argumentos, diríamos, por conseguinte, que o filósofo é o mais obscuro dos teóricos? Poderá alguém se levantar agora para responder que sim e, em contrapartida, alguém por ventura defenderá o filósofo dizendo ser do senso comum que vêm estas reclamações: “Não entendo nada, não entendo nada”, eles repetem.
A nossa hipótese é que, em seu interior, um conceito é trincado, ou seja, ele é constituído de pelo menos duas grandes partes. Uma é o seu mínimo ou extremo que se assemelha às funções da δόξα[1]. A outra é seu máximo ou extremo oposto, o que mais se afasta dessas funções. A primeira metade nós chamamos de mínimo concreto; a segunda de máximo abstrato. O mínimo concreto de um conceito apela, pois, para uma opinião aparentemente segura, aquela em que se armam diversas metáforas para compreendê-lo. Essa é a metade dos exemplos pela qual, suspeitamos, um conceito pode ser entendido. O máximo abstrato trata-se de uma espécie de essência de um conceito, onde difíceis relações entre componentes acontecem. Essa é a metade dos complexos que, a partir dela, diríamos, um conceito pode ser aprendido.
Contudo, para não definirmos nada relativamente a tudo que poderia ser conceituado, vamos tentar dar certa regularidade ao que já fora dito. É bem verdade que não vamos trazer à tona uma falsidade nas palavras, não vamos inferir opiniões que sejam uma mera alusão de nada. Sendo assim, se não há definição, o Nada poderá ser considerado em nossos escritos? Ou o ato de escrever sobre uma didática torna-se “fechado” em si mesmo? Ainda estamos alhures de estigmatizar qualquer conceito que nos seja mera re-produção do Mesmo, muito embora todo discurso seja interessado em fixar seus conceitos caquéticos.
Então estamos em uma caixa fechada: é conceito aqui, δόξα acolá, concretude e abstração para todos os lados. Sentimos uma nauseante vivência filosófica; aquele certo cansaço das palavras, dos ditos e escritos, muito embora infirmados. Queremos mais do que a mera formalidade antiga, na qual a velha máxima socrática “só sei que nada sei” transformou-se em uma nova, porém tão esfacelada afirmação imediata que “só sabe tudo o que tem de saber”. Assim, o máximo oposto e o mínimo imposto, são dois lados de uma mesma e única objeção.
A tendência filosófica é tão pomposa quanto essencialmente vive de verossimilhanças. É tão pequena em sua aspereza lúcida, tão lúdica em seus joguinhos e historinhas mal-contadas. O filósofo, além de ser o mais obscuro dos teóricos, ele pode ser também o mais vaidoso e soberbo dos pensadores? Por que todo ato de pensar, conjecturar, refutar, afirmar, negar, expor, transpor etc., faz parte somente de uma característica única da Filosofia? É este uno que dá uma resposta sem fim – não queremos objetivos claros -, um final sem sentido; sentir sem saber: sapiência nula e vã. [...] (BENTO, Eduardo e NASTASI, Sérgio Lima. Os palavrões e as coisas, pp. 11-2).


[1] Dóxa, do grego, significa opinião em direta oposição à noção de episteme enquanto conhecimento tido como verdadeiro a partir do(s) conceito(s).

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Trabalho interdisciplinar: Filosofia e Inglês

Ami@s,

Disponibilizo abaixo o texto de Hannah Arendt (em inglês) aos alunos dos segundos anos da E.E. Professor Alfredo Burkart. Cada aluno deve traduzi-lo como exigência da parte de Inglês e em seguida, com a tradução do texto em mãos, fazer uma análise filosófica dos conceitos apresentados pela autora.
Os trabalhos deverão ser entregues até o dia 24/10, impreterivelmente!

Para quaisquer dúvidas, entrem em contato comigo a partir dos meus e-mails:

Obrigado,


E.B.


HANNAH ARENDT: THE HUMAN CONDITION



·       Vita Activa and the human condition

With the term vita active, I propose to designate three fundamental human activities: labor, work, and action. They are fundamental because each corresponds to one of the basic conditions under which life on earth has been given to man.
Labor is the activity which corresponds to the biological process of the human body, whose spontaneous growth, metabolism, and eventual decay are bound to the vital necessities produced and fed into the life process by labor. The human condition of labor is life itself.
Work is the activity which corresponds to the unnaturalness of human existence, which is not imbedded in, and whose mortality is not compensated by, the species’ ever-recurring life cycle. Work provides and “artificial” world of thing, distinctly different from all natural surroundings. Within its borders each individual life is housed, while this world itself is meant to outlast and transcend then all. The human condition of work is worldliness.
Action, the only activity that goes on directly between men without the intermediary of thing or matter, corresponds to the human condition of plurality, to the fact that men, not Man, live on the earth and inhabit the world. While all aspects of the human condition are somehow related to politics, this plurality is specifically the condition – not only the conditio sine qua non, but the conditio per quam – of all political life. Thus the language of the Romans, perhaps the most political people we have known, used the words “to live” and “to be among men” (inter homines esse) or “to die” and “to cease to be among men” (inter homines esse desinere) as synonyms. But in its most elementary form, the human condition of action is implicit even in Genesis (“Male and female created He them”), if we understand that this story of man’s creation is distinguished in principle from the one according to which God originally created Man (adam), “him” and not “them”, so that the multitude of human being becomes the result of multiplication.[1] Action would be an unnecessary luxury, a capricious interference repetitions of the some model, whose nature or essence was the same for all and as predictable as the nature or essence of any other thing. Plurality is the condition of human action because we are all the same, that is, human, in such a way that nobody is ever the same as anyone else who ever lived, lives, or will live.
All three activities and their corresponding conditions are intimately connected with the most general condition of human existence: birth and death, natality and mortality. Labor assures not only individual survival, but the life of the species. Work and its product, the human artifact, bestow a measure of permanence and durability upon the futility of mortal life and the fleeting character of human time. Action, in so far as it engages in founding and preserving political bodies, creates the condition for remembrance, that is, for history. Labor and work, as well as action, are also rooted in natality in so far as they have the task to provide and preserve the world for, to foresee and reckon with, the constant influx of newcomers who are born into the world as strangers. How-ever, of the three, action has the closest connection with the human condition of natality; the new beginning inherent in birth can make itself felt in the world only because the newcomer possesses the capacity of beginning something anew, that is, of acting. In this sense of initiative, an element of action, and therefore of natality, is inherent in all human activities. Moreover, since action is the political activity par excellence, natality, and not mortality, may be the central category of political, as distinguished from metaphysical, thought.


* * *




[1] In the analysis of postclassical political thought, it is often quite illuminating to find out which of the two biblical versions of the creation story is cited. Thus it is highly characteristic of the difference between the teaching of Jesus of Nazareth and of Paul that Jesus, discussing the relationship between man and wife, refers to Genesis 1:27: “Have ye not read, that he which made them at the beginning made them male and female” (Matt. 19:4), whereas Paul on a similar occasion insists that the woman was created “of the man” and hence “for the man”, even though he then somewhat attenuates the dependence: “neither is the man without the woman, neither the woman without the man” (I Cor. 11:8-12). The difference indicates much more than a different attitude to the role of woman. For Jesus, faith was closely related to action (cf. § 33 below); for Paul, Faith was primarily related to salvation. Especially interesting in this respect is Augustine (De civitade Dei xii. 21), who not only ignores Genesis 1:27 altogether but sees the difference between man and animal in that man was created unum ac singulum, whereas all animas were ordered “to come into being several at once” (plura simul iussit exsistere). To Augustine, the creation story offers a welcome opportunity to stress the species character of animal life as distinguished from the singularity of human existence.

sábado, 21 de setembro de 2013

Momento de reflexão


Consideremos os imprevistos[1]


A reflexão sobre a morte deve ser compartilhada, mesmo quando as palavras não dão conta de expressar um sentimento dado pelo acaso, pelo acontecimento que finda as relações entre as pessoas de forma tão inesperada. Se não conseguimos entender o peso da vida, talvez seja porque não temos a consciência do fim e, nesse sentido, as palavras de conforto se perdem na confusão mental dada pela enorme tristeza que advém de maneira abrupta...

[...] é preciso resgatar, no mundo atual, a consciência da morte, o que não deve ser entendido como a preocupação mórbida, doentia do homem que vive obcecado pela morte inevitável. Tal atitude seria pessimista e paralisante. Ao contrário, ao reconhecer a finitude da vida, reavaliamos nosso comportamento e escolhas, e podemos proceder a uma diferente priorização de valores. Por exemplo, se tomamos como valores absolutos o acúmulo de bens, a fama e o poder, a reflexão sobre a mortalidade torna ridículos esses anseios, privilegiando outros valores que nos dão maior dignidade. Essa mesma reflexão, no nível planetário, nos ajuda a questionar os falsos objetivos do progresso a qualquer custo. A consciência da morte nos ajuda a questionar não só se nossa vida é autêntica ou inautêntica, mas também se faz sentido o destino que os povos legaram para seus herdeiros (Aranha e Martins).


Talvez o tempo de pensarmos no outro como verdadeiramente outro chegou; não mais como uma mera extensão de nós mesmos. Por essa razão, nada do que for dito ou escrito poderá arrancar a dor da morte, contudo a vida é um aprender constante, mesmo nos momentos em que o choro se faz a única forma de expressão e representação. E, por fim, é chegada a ocasião de suspender as coisas e as palavras com um silêncio que seja realmente tranquilizador...


* * *





[1] Texto escrito por Eduardo Bento: professor de filosofia, músico, compositor, produtor musical e multinstrumentista.

domingo, 1 de setembro de 2013

"Com versar"




Oh!



Oh! Dá até dó;
um piano caro como aquele
todo largado lá...


Virou casa-de-rato;
moradia de um livro ingrato,
e não se escuta mais um fá


E quando o sol bate,
os bemóis descascam,
os sustenidos se afastam
e o ré chora em si


Ó pai, tenho dó do mi
e durmo diminuto,
a cada compasso que escuto
não vejo o tempo em ti




Eduardo Bento,

setembro de 2013.

sábado, 31 de agosto de 2013

Artigo


Que fim levaram todas as flores?
Eduardo Bento[1]

Há tempos, havia um conjunto musical brasileiro (ou banda, como dizem os jovens), que trouxe uma novidade sonora e visual ao cenário da música nacional. Os integrantes desse grupo trajavam roupas chamativas – pouquíssimas peças de roupa –, cobriam os seus rostos com uma maquiagem “esquisita”, cantavam contra o preconceito e, sobretudo contra a repressão dos tempos de ditadura militar; pelo menos era esta a ideia vendida ao povo. Ademais, as apresentações desse grupo eram consideradas performances magníficas que, além da crítica ao governo, abarcava poesia e literatura portuguesa em suas canções.
Foram considerados os precursores do chamado glam rock brasileiro, ou seja, os primeiros a chamarem atenção da mídia com algo que ia além da própria música: a aparência extravagante. Por vezes juravam mentiras e seguiam sozinhos em sua jornada da crítica contra a Crítica, isto é, iam de encontro aos costumes e a moral dos anos setenta com uma sagacidade ímpar que os levaram da bossa nova à Tropicália.
Todavia, aqui, poderão advir duas perguntas essenciais: como se chamava esse grupo? Quem eram os integrantes que o formaram? Para o leitor mais atento – e com um pouco mais de idade –, já ficou claro que, nas linhas superiores, fizemos referência aos Secos e Molhados. Idealizado por João Ricardo (vozes, violão e gaita), o grupo ainda contava com a presença de Ney Matogrosso (voz) e Gerson Conrad (vozes e violão) em sua formação principal. Contudo, não nos cabe esmiuçar todos os detalhes do grupo, toda ficha técnica dos discos lançados e, muito menos, apresentar toda sua biografia.
Assim como o título do presente artigo sugere, falaremos de uma época posterior ao sucesso máximo alcançado pelo conjunto. Falaremos, pois, de um período em que Ney Matogrosso já não fazia mais parte do grupo como frontman. Apenas João Ricardo foi o único remanescente dos Secos e Molhados após um tempo de inatividade que durou por volta de dois anos. A partir disso, em meados de 1978, João Ricardo lança um novo disco (o terceiro) que contou com a participação de Lili Rodrigues (voz), Wander Taffo (guitarra), João Ascenção (baixo) e Gel Fernandes (bateria). Neste novo trabalho, a música “Que fim levaram todas as flores?” levou o grupo mais uma vez ao sucesso de outros tempos, porém sem a mesma crítica e extravagancia de outrora.
Poucos são aqueles que recordam esta fase dos Secos e Molhados; talvez por não contar com a presença de Ney Matogrosso e os seus agudos inigualáveis; talvez por não existir mais uma crítica direta à ditadura militar; ou ainda porque não fizeram apresentações inesquecíveis com as canções deste terceiro disco. O motivo pelo qual não se há muita lembrança dessa época não importa, o que é importante está dentro da análise dessa noção de fim exposta na canção homônima a este texto.
Quando escutamos essa canção, ou ao ler a letra da música, sentimos uma sensação de saudosismo. Sentimos que tudo o que era belo – tal como as flores –, está morto, está em algum outro lugar cujo endereço nós não sabemos qual é; o fim de tudo aquilo que um dia trouxe alegria ao olhar de todos, tal como o olhar das crianças. Embora pareça um final dos tempos, esta ideia de fim, este “finalismo”, nos remete diretamente à ideia de teleologia proposta por Aristóteles[2].
Por fim, para além de qualquer devaneio que possamos fazer ao relacionar filosofia com música brasileira, deixamos aqui a indicação dessa canção para o nosso leitor. Naquela época o novo cantor dos Secos e Molhados procurou manter a mesma qualidade na voz que Ney Matogrosso empregara nas canções anteriores, contudo, não há como uma cópia, uma imitação, ser a mesma coisa que o original, ou isso seria possível? O seu eu-lírico-masculino de antes de entrar para o grupo, fora substituído por um eu-artístico-feminino assim que começou a fazer parte do grupo, para finalmente abandoná-lo. Pois bem, depois de tudo isso cabe aqui uma pergunta: que fim levou Lili Rodrigues?


* * *




[1] Eduardo Bento é professor de filosofia da Escola Estadual Professor Alfredo Burkart, graduado pela Universidade Metodista de São Paulo. Músico, compositor e produtor musical.
[2] Talvez por buscar um objetivo, um propósito, a canção “Que fim levaram todas as flores?” não fala de um fim estrito, terminal; talvez a letra da música esteja bem próxima da noção de causa final como explicação que determina o surgimento de todos os fenômenos do mundo natural ou físico. Cf. ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2007.

sábado, 6 de julho de 2013

Gozos revisitados



PUNHETA SÃO

O cristão,
masturba-se;
Os juvenis batem punheta ou siririca;
O muçulmano,
masturba-se;
Já os senis praticam o gozo venéreo;
E o judeu?
Ah, esse realmente se masturba...

Como já supunha Onan,
uma punheta é muito sã.


Eduardo Bento e Sérgio Lima Nastasi


UMA IMAGEM PARA ILUSTRAR  O POEMA: http://www.youtube.com/watch?v=JHlOYx1zmpk

sábado, 16 de março de 2013

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Insaciável



VERSEJADOR

Talvez seja dor,
complacência ou qualquer coisa assim.
Quem é o curador,
senão ‘aquele que cuida do póstumo fim?
Ruim!

Talvez seja a flor;
se não for um dia será.
A última do Lácio,
da simetria que não é tão fácil,
do vocábulo d’aquele que nada dirá.

Versar a dor do amor;
cotejar o sabor de uma cor.
Colorir os verbos incertos;
conjugar as notas azuis
Chega!
Isso é logorreia, não se traduz...

Talvez não seja a dor,
versejador!




Eduardo Bento,
sábado, 16 de fevereiro de 2013.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Mais um trabalho



(IN)-PRUDENTE

Um brinde aos selvagens
Àqueles que não têm medo
De guardar um novo segredo
E não vivem de imagens

Aos que agradam a si mesmos
Que admiram sem desejo
Que sentem a chuva
Em meio a esta rotina, tediosa, absurda...

E ainda há quem se iluda
Pelos poucos e novos tempos
Vigiados por uma sombra imunda
Que afasta os mais ternos momentos

Já dizia Reis com sua clareza e distinção
Que não há afirmação
Em que tudo se modifica
Ali, onde o bem-mal se implica;
Onde um erro não tem perdão




Eduardo Bento e Milena Barros da Silva
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Em versos



Rumo à fazenda do verso...

Quem diria que o beco daria no mar?
o cheiro estaria no ar...
Quem, Maria?
Filha do fogo
dos bagos de Zeus
da lira de Orfeu
espáduas de neve
me leve ao sonho, Maria!




Leandro Acácio e Eduardo Bento

Miranda, pereira, mangueira, romãzeira et cetera



OLHOS DE MANGA

Pega na fruta que o suco te cala
Semente-maçã, gira-gira na jaca;
Miranda dançou com a pera que fala
Cortou a romã sem usar uma faca

Pinga com mel o véu dessa raça
Açúcar e fel são distantes e afins
Ao equilibrar as frutas na praça
A moça sem graça não quis prosseguir

E seguir quem te segue e não compartilha
O amor que um pai derramou pela filha
E não vira cachaça sem ter opção
Só visa o pão ao tomar um quentão

Estes olhos de manga não fitam o luar
Procuram as ervas e gramas a plantar




Eduardo Bento,
sábado, 09 de fevereiro de 2013.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Um sofisma?



O FALACIOSO

Convencer o convencido niilista
Com a suposta ideia de saber
Que do nada tudo fica em outra vista
Incipiente a procurar o que não ser

Viver é morrer todos os dias
É o levantar-se em agonia
É o não-saber entristecer
Os corajosos que se rendem à fantasia

É como viver na mente dos loucos
Mas esta virtude é para poucos
Que eternamente são escolhidos a falecer

Desfalecer mais uma vez o que não via
Na escuridão que cobre o céu de um novo dia
E a alma nega os que não ficam por dizer




Eduardo Bento e Giovanna Regina Guarnieri
Sexta-feira, 08 de fevereiro de 2013