quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Isto não é um cachimbo



DUAS CARTAS DE RENÉ MAGRITTE ENDEREÇADAS A FOUCAULT[1]


23 de maio de 1966

Prezado senhor,

O senhor fará o obséquio, espero, de considerar estas poucas reflexões relativas à leitura que faço de seu livro As palavras e as coisas...

As palavras Semelhança e Similitude permitem ao senhor sugerir com força a presença - absolutamente estranha - do mundo e de nós próprios. Entretanto, creio que essas duas palavras não são muito diferenciadas, os dicionários não são muito edificantes no que as distingue.

Parece-me que, por exemplo, as ervilhas possuem relação de similitude entre si, ao mesmo tempo visível (sua cor, forma, dimensão) e invisível (sua natureza, sabor, peso). E a mesma coisa no que concerne ao falso e ao autêntico etc. As "coisas" não possuem entre si semelhanças, elas têm ou não têm similitudes.

Só ao pensamento é dado ser semelhante. Ele se assemelha sendo o que vê, ouve ou conhece, ele torna-se o que o mundo lhe oferece.

Ele é tão invisível quanto o prazer e a pena. Mas a pintura faz intervir uma dificuldade: há o pensamento que vê e que pode ser descrito visivelmente. As Damas de honra[2] são a imagem visível do pensamento invisível de Velásquez. O invisível seria então, por vezes, visível? Só com a condição de que o pensamento seja constituído exclusivamente de figuras visíveis.

A esse respeito, é evidente que uma imagem pintada – que é intangível por sua natureza – não esconda nada, enquanto o visível tangível esconde sistematicamente um outro visível – se cremos em nossa experiência.

Existe, há algum tempo, uma curiosa primazia conferida ao "invisível" através de uma literatura confusa, cujo interesse desaparece se se observa que o visível pode ser escondido, mas que o invisível não esconde nada: pode ser conhecido ou ignorado, sem mais. Não cabe conferir ao invisível mais importância do que ao visível, ou inversamente.

O que não “falta" importância é ao mistério evocado de fato pelo visível e pelo invisível, e que pode ser evocado de direito pelo pensamento que une as “coisas" na ordem que o mistério evoca.

Permito-me apresentar a sua atenção às reproduções de quadros anexas, que pintei sem me preocupar com uma busca original no pintar[3].

Queira aceitar etc...

René Magritte




4 de junho de 1966

Prezado senhor,

...Sua questão (a respeito de meu quadro "Perspectiva. O Balcão de Manet") pergunta sobre o que ela própria já contém: o que me fez ver ataúdes onde Manet via figuras brancas é a imagem mostrada por meu quadro onde o cenário do "Balcão" convinha para situar os ataúdes.

O "mecanismo" que operou aqui pode ser objeto de uma explicação erudita, da qual sou incapaz. Essa explicação seria válida, talvez certa, mas continuaria sendo um mistério.

O primeiro quadro, intitulado "Perspectiva", era um ataúde sentado sobre uma pedra, numa paisagem.

O "Balcão" é uma variante do precedente, houve outras anteriormente: "Perspectiva. Madame Récamier, da David" e "Perspectiva. Madame Récamier, de Gérard". Uma variante com, por exemplo, o cenário e os personagens do "Enterro em Ornans", de Coubert, teria o sentido de uma paródia.

Creio que se deve notar que esses quadros, chamados “Perspectivas" mostram um sentido que os dois sentidos da palavra Perspectiva não têm. Essa palavra, e as outras, têm um sentido preciso num contexto, mas o contexto - o senhor o demonstra melhor do que ninguém em As palavras e as coisas - pode dizer que nada é confuso salvo o espírito que imagina um mundo imaginário.

Agrada-me o fato de que o senhor reconheça uma semelhança entre Roussel e o que eu possa pensar que mereça ser pensado. O que ele imagina não evoca nada de imaginário, evoca a realidade do mundo que a experiência e a razão consideram confusamente.

Espero ter a oportunidade de encontrá-lo por ocasião da exposição que farei em Paris, na galeria Iolas, pelo fim do ano.

Aceite etc...

René Magritte



[1] FOUCAULT, Michel. Isto não é um cachimbo. Tradução Jorge Coli, 3ª edição, São Paulo, Paz e Terra, 2002, pp. 81-6.

[2] Também conhecido por Las Meninas. (N. do T.).

[3] Entre outras reproduções havia “Isto não é um cachimbo”; no verso, Magritte escrevera: “o título não contradiz o desenho, ele o afirma de outro modo.".



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Letra de música


Quando vou te conhecer?

Edu Bento

A imaginação não vai refletir como vão ser

Os nossos momentos

O que vamos fazer?

Sol brilha tanto

O dia passa sem por que, não há ninguém além de nós...


Queremos apenas agora, ficarmos juntos neste luar

Quando as estrelas se movem, trazendo paz ao coração

O véu noturno se esvai e um novo dia vem nos iluminar

As cores estão tão belas, florescem nossa união...


Não vou te esquecer

Eu quero você

O meu amor por ti começa; quando vou te conhecer?

Quando vou te conhecer aqui?


Ouça uma prévia da canção: http://www.myspace.com/edubento

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A traição brasileira das imagens



Uma pequena alusão ao quadro La trahison des images (1926) do pintor belga René Magritte (1898 ― 1967).