quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A relação entre linguagem comum e consciência.

EDUARDO DE ARAÚJO BENTO

As linhas que se seguem dessa breve explicação sobre a relação entre linguagem habitual - por vezes considerada como uma linguagem soez, principalmente aos ditames considerados como plenamente eruditos -, e a consciência humana nos limites filosóficos de tradição platônica, ou até mesmo positivista, tentam por analisar a conexão que Merleau-Ponty explicitou em seu texto A prosa do mundo no capítulo sobre A ciência e a experiência da expressão. Ser-se-ão relatadas aqui, no presente texto, as partes provenientes dos parágrafos cinco e oito do referido capítulo.

Ao entender a linguagem habitual ou comum como proveniente das relações cotidianas, Merleau-Ponty não faz nenhum hiato, ou melhor, não considera existente uma separação entre os conceitos e as significações da linguagem científica. É um tanto até evidente a sua verificação de uma possível ligação entre os dois tipos de linguagem, se é que há essa dualidade das expressões corriqueiras da fala e dos conceitos amplamente considerados fechados, sobre um conhecimento sistematizado com vistas à observação ou à simples reflexão dos fatos. Por essa razão, a ciência, pelo olhar merleau-pontyano, assim como a filosofia, não deveriam fechar-se à linguagem comum, por esta não se tratar de um simples distanciamento da razão e do conhecimento perante as grandes intuições do homem. A linguagem passa a ser considerada como um importante elo entre as expressões introspectivas e a comunicação entre os seres humanos.

A linguagem é a construção dos fatos que a ciência ou a filosofia deveriam buscar para obter suas respostas e suas conclusões. Entre um e outro saber não deveria existir um caráter fechado ante as significações de uma linguagem que, antes de tudo, deve vir em primeiro lugar com relação aos procedimentos e conceitos. Pelas quais, nenhuma das chamadas “disciplinas” poderiam constituir-se sem antes contar com toda uma série de intenções, verificações, atribuições, premissas em geral e conclusões que, somente a partir da linguagem comum, seria amplamente possível e pautada na realidade e na vivência dos homens.

Por fim, nessa breve análise sobre a importância da linguagem para a consciência, é importante lembrar que a percepção imediata da própria experiência, depende da linguagem habitual (ou comum, como quiser) para assim ser possível. Sem a linguagem a consciência possivelmente seria vazia em si mesma, e não alcançaria uma expressão aberta para todos os seres falantes, ou seja, seria quase que como um dogma, fechada em si e que responderia somente aos fatos que inúmeras vezes não condizem com as relações que somente a linguagem atual, falada por todos, é capaz de trazer. A consciência estaria trancada em uma erudição débil ou uma simples polarização do conhecimento em seu mundo fechado e, não é dessa maneira, que a consciência deveria estar relacionada à linguagem, mas sim as duas deveriam compreender o mesmo princípio em comunicar seus atos e fatos, e não serem isoladas entre si.

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