quarta-feira, 27 de abril de 2011

domingo, 10 de abril de 2011

Outras influências (confluências?)




Solidão
Aproximo-me da noite
o silêncio abre os seus panos escuros

e as coisas escorrem

por óleo frio e espesso


Esta deveria ser a hora

em que me recolheria

como um poente

no bater do teu peito

mas a solidão

entra pelos meus vidros

e nas suas enlutadas mãos
solto o meu delírio

É então que surges

com teus passos de menina

os teus sonhos arrumados

como duas tranças nas tuas costas

guiando-me por corredores infinitos
e regressando aos espelhos

onde a vida te encarou


Mas os ruídos da noite

trazem a sua esponja silenciosa

e sem luz e sem tinta

o meu sonho resigna


Longe

os homens afundam-se

com o caju que fermenta

e a onda da madrugada

demora-se de encontro

às rochas do tempo


(Mia Couto)

terça-feira, 5 de abril de 2011