quarta-feira, 15 de outubro de 2014

O RETORNO



Comentar, pra quê?


Eu sei que, aqui, muitos não vão nem ler isso. Porque o que se lê por aqui é tão-somente aquilo que já está dito e colado, a partir uma “verdade” oculta advinda d’um discurso de fácil “degustação”. O -dito é compartilhado, e o não-dito é denunciado. Afinal, o que “vale” é a (re)produção e a não-produção do pensamento. É a aceitação virtual dos discursos pré-fabricados. É válida, ainda, a (re)colocação da Massa contra a (mal)dita minoria sufocante. Eles repetem, e repetem com todo fervor; e assim também repetirei (só para re-petir esse eco delirante):


O comentário é uma espécie de discurso segundo a duplicar o discurso comentado, buscando fazer surgir alguma verdade implícita no dito explícito do discurso primeiro. Supõe, por um lado, alguma origem mais remota a ser reencontrada e um sentido oculto a ser decifrado; e supõe, por outro lado, que esta origem e este sentido – mais essencial e, ao mesmo tempo, mudo – de algum modo atravessam o sentido explícito, nele dormitam, a fim de que possam ser trazidos à luz pelo comentário. (MUCHAIL, Salma Tannus. Foucault, simplesmente: Textos reunidos. São Paulo: Loyola, 2004. p 11 – grifos meus).


          A motivação de escrever este texto, e de apresentar esta citação (ex-citante), não poderá vir a ser definida por meio de um comentário genérico. Nem eu mesmo, que já não sou mais o autor deste texto, teria as condições possíveis de comentar a mim mesmo, como um reflexo cadavérico no espelho, e me perder na não-busca pela origem do que jamais fora dito. Lembremo-nos das aulas de lógica formal, pois eu não me lembro. E não tenho dito...


Eduardo Bento

MMXIV

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