sábado, 21 de setembro de 2013

Momento de reflexão


Consideremos os imprevistos[1]


A reflexão sobre a morte deve ser compartilhada, mesmo quando as palavras não dão conta de expressar um sentimento dado pelo acaso, pelo acontecimento que finda as relações entre as pessoas de forma tão inesperada. Se não conseguimos entender o peso da vida, talvez seja porque não temos a consciência do fim e, nesse sentido, as palavras de conforto se perdem na confusão mental dada pela enorme tristeza que advém de maneira abrupta...

[...] é preciso resgatar, no mundo atual, a consciência da morte, o que não deve ser entendido como a preocupação mórbida, doentia do homem que vive obcecado pela morte inevitável. Tal atitude seria pessimista e paralisante. Ao contrário, ao reconhecer a finitude da vida, reavaliamos nosso comportamento e escolhas, e podemos proceder a uma diferente priorização de valores. Por exemplo, se tomamos como valores absolutos o acúmulo de bens, a fama e o poder, a reflexão sobre a mortalidade torna ridículos esses anseios, privilegiando outros valores que nos dão maior dignidade. Essa mesma reflexão, no nível planetário, nos ajuda a questionar os falsos objetivos do progresso a qualquer custo. A consciência da morte nos ajuda a questionar não só se nossa vida é autêntica ou inautêntica, mas também se faz sentido o destino que os povos legaram para seus herdeiros (Aranha e Martins).


Talvez o tempo de pensarmos no outro como verdadeiramente outro chegou; não mais como uma mera extensão de nós mesmos. Por essa razão, nada do que for dito ou escrito poderá arrancar a dor da morte, contudo a vida é um aprender constante, mesmo nos momentos em que o choro se faz a única forma de expressão e representação. E, por fim, é chegada a ocasião de suspender as coisas e as palavras com um silêncio que seja realmente tranquilizador...


* * *





[1] Texto escrito por Eduardo Bento: professor de filosofia, músico, compositor, produtor musical e multinstrumentista.

domingo, 1 de setembro de 2013

"Com versar"




Oh!



Oh! Dá até dó;
um piano caro como aquele
todo largado lá...


Virou casa-de-rato;
moradia de um livro ingrato,
e não se escuta mais um fá


E quando o sol bate,
os bemóis descascam,
os sustenidos se afastam
e o ré chora em si


Ó pai, tenho dó do mi
e durmo diminuto,
a cada compasso que escuto
não vejo o tempo em ti




Eduardo Bento,

setembro de 2013.