sábado, 16 de fevereiro de 2013

Insaciável



VERSEJADOR

Talvez seja dor,
complacência ou qualquer coisa assim.
Quem é o curador,
senão ‘aquele que cuida do póstumo fim?
Ruim!

Talvez seja a flor;
se não for um dia será.
A última do Lácio,
da simetria que não é tão fácil,
do vocábulo d’aquele que nada dirá.

Versar a dor do amor;
cotejar o sabor de uma cor.
Colorir os verbos incertos;
conjugar as notas azuis
Chega!
Isso é logorreia, não se traduz...

Talvez não seja a dor,
versejador!




Eduardo Bento,
sábado, 16 de fevereiro de 2013.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Mais um trabalho



(IN)-PRUDENTE

Um brinde aos selvagens
Àqueles que não têm medo
De guardar um novo segredo
E não vivem de imagens

Aos que agradam a si mesmos
Que admiram sem desejo
Que sentem a chuva
Em meio a esta rotina, tediosa, absurda...

E ainda há quem se iluda
Pelos poucos e novos tempos
Vigiados por uma sombra imunda
Que afasta os mais ternos momentos

Já dizia Reis com sua clareza e distinção
Que não há afirmação
Em que tudo se modifica
Ali, onde o bem-mal se implica;
Onde um erro não tem perdão




Eduardo Bento e Milena Barros da Silva
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Em versos



Rumo à fazenda do verso...

Quem diria que o beco daria no mar?
o cheiro estaria no ar...
Quem, Maria?
Filha do fogo
dos bagos de Zeus
da lira de Orfeu
espáduas de neve
me leve ao sonho, Maria!




Leandro Acácio e Eduardo Bento

Miranda, pereira, mangueira, romãzeira et cetera



OLHOS DE MANGA

Pega na fruta que o suco te cala
Semente-maçã, gira-gira na jaca;
Miranda dançou com a pera que fala
Cortou a romã sem usar uma faca

Pinga com mel o véu dessa raça
Açúcar e fel são distantes e afins
Ao equilibrar as frutas na praça
A moça sem graça não quis prosseguir

E seguir quem te segue e não compartilha
O amor que um pai derramou pela filha
E não vira cachaça sem ter opção
Só visa o pão ao tomar um quentão

Estes olhos de manga não fitam o luar
Procuram as ervas e gramas a plantar




Eduardo Bento,
sábado, 09 de fevereiro de 2013.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Um sofisma?



O FALACIOSO

Convencer o convencido niilista
Com a suposta ideia de saber
Que do nada tudo fica em outra vista
Incipiente a procurar o que não ser

Viver é morrer todos os dias
É o levantar-se em agonia
É o não-saber entristecer
Os corajosos que se rendem à fantasia

É como viver na mente dos loucos
Mas esta virtude é para poucos
Que eternamente são escolhidos a falecer

Desfalecer mais uma vez o que não via
Na escuridão que cobre o céu de um novo dia
E a alma nega os que não ficam por dizer




Eduardo Bento e Giovanna Regina Guarnieri
Sexta-feira, 08 de fevereiro de 2013

Produzir...


Chove-chuva

A chuva começa a tressaltar
Aos olhos de quem só quer chorar
Voraz e profundo é o sentimento
D’um canto que per si é só lamento

Vivificar as vozes d’este soneto
Pr’uma noite o som poder apaziguar
E bendizer ao coração n’este momento
Que nada fica n’uma espera a violar

Tratar o novo como o velho que se foi
Destino solto foi-se embora e disse “oi”
Vem n’esta hora d’uma vez sem remedar

Pode agora escolher uma fração
A qual não vê um velho ardor no coração
Pois sente tudo novamente a melindrar


Eduardo Bento,
sexta-feira, 08 de fevereiro de 2013

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A criar...


Como somos 21

Quando a trissomia me alucina
Nossa síndrome nos desabilita
E na deformidade desta sina
A habilidade é pouca e maldita

Há quem diga que é um retardo
Mas quem carrega este fardo?
Só não se sabe se é muito ou pouco
E este ser, do ente, é estigmatizado como um louco.

Vejo a métrica se perder
Sinto o céu escurecer
Para que não me falhe a razão

Sem vazão ao compreender
E os defeitos vão corrigir
D’aqueles que só versam a mentir.

Eduardo Bento
07/02/2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Revisitar...


Instinto genésico

Eu sinto, agora, o ufanoso sabor da tua pele
Adiante aos ares mais límpidos, introduzo-te;
Não há um prazer maior que eu vele,
Fico comedido à tua frente, posto a olhar-te.

Pero, tu abres as tuas hastes de contento,
E me doo aos teus carinhos sobre o meu mento;
O suor brota em nossas faces, pelas horas demoradas,
Viscoso amor suplantado em carícias violentadas.

Grandioso, cansativo e aprazível movimento fundido.
Nossos corpos são agora uma única e mesma personagem;
Corramos neste instante para o destino de nossa imagem...

D’uma satisfação embutida em teu rosto definido,
De beleza trina, incluir-se-ia a inteligência sem miragem;
Acabamos por gozar a vida sem terminar a viagem.

Eduardo Bento.
12 de outubro de 2006